sexta-feira, abril 05, 2013
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Em "Uma Prova do Céu", o neurocirurgião Eben Alexander conta a sua experiência de quase morte (EQM). O autor, que era cético e defensor da lógica das ciências, afirma ter presenciado manifestações de vida em dimensões, algo que ele julgava impossível.
Abaixo, leia um trecho do prólogo de "Uma Prova do Céu"

 Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia. 

                                        (William Shakespeare)




Sou neurocirurgião.
Eu me graduei em química pela Universidade da Carolina do Norte no ano de 1976, na cidade de Chapel Hill, e obtive meu diploma de medicina pela Universidade Duke em 1980. Durante meus 11 anos de formação e de residência médica na Duke, no Hospital Geral de Massachusetts e em Harvard, me dediquei à neuroendocrinologia, o estudo das interações entre o sistema nervoso e o sistema endócrino (as glândulas que liberam os hormônios que governam a maior parte das atividades de nosso corpo). Também passei dois desses 11 anos investigando como os vasos sanguíneos em uma determinada região do cérebro reagem patologicamente quando há hemorragia decorrente de um aneurisma - uma síndrome conhecida como vasoespasmo cerebral.
Após concluir uma bolsa de estudos em neurocirurgia cerebrovascular em Newcastle-Upon-Tyne, no Reino Unido, passei 15 anos na faculdade de medicina de Harvard como professor adjunto de cirurgia, com especialização em neurocirurgia. Durante esse período operei inúmeros pacientes, muitos deles em condições cerebrais graves e correndo risco de vida.
A maioria das minhas pesquisas foi sobre o desenvolvimento de procedimentos técnicos avançados, como a radiocirurgia estereotáxica, uma técnica que permite aos cirurgiões direcionar precisamente os feixes de radiação para alvos específicos no cérebro sem afetar as áreas adjacentes. Além disso, ajudei a desenvolver os procedimentos neurocirúrgicos de ressonância magnética visando ao diagnóstico por imagem de complicações cerebrais difíceis de tratar, como tumores e distúrbios vasculares.
Ao longo desses anos fui autor ou coautor de mais de 150 artigos para revistas dirigidas a especialistas, e apresentei as conclusões de minhas pesquisas em mais de 200 conferências médicas ao redor do mundo.
Em resumo, dediquei minha vida inteiramente à ciência. Usar as ferramentas da medicina moderna para ajudar e curar pessoas e aprender sempre mais sobre os mecanismos do cérebro e do corpo humano eram a minha missão. Eu me sentia muito feliz por tê-la encontrado. E, acima de tudo, eu tinha uma bela esposa e dois filhos adoráveis. Por mais que estivesse casado com o trabalho de muitas maneiras, nunca negligenciei minha família, que sempre considerei a outra grande bênção da vida. Sob quase todos os aspectos eu era um homem de muita sorte, e sabia disso.
Em 10 de novembro de 2008, entretanto, aos 54 anos, a sorte pareceu me abandonar. Fui surpreendido por uma doença rara e fiquei em coma durante sete dias. Nesse período, todo o meu neocórtex - a superfície externa do cérebro, a parte que nos torna humanos - ficou paralisado. Inoperante. Completamente ausente.
Quando nosso cérebro está ausente, nós também ficamos ausentes. Como neurocirurgião, ouvi muitos relatos de pessoas que tiveram experiências estranhas, geralmente depois de sofrerem ataques cardíacos: histórias de viagem para lugares misteriosos e maravilhosos, de conversas com parentes mortos - e até de encontros com Deus.
Fascinante, sem dúvida. Mas tudo isso, em minha opinião, era pura fantasia. Afinal, o que provocava as experiências sobrenaturais que as pessoas relatavam com tanta frequência? Na verdade, a resposta não me interessava, mas eu acreditava que essas experiências tinham uma base cerebral. Toda consciência tem. Se não houver atividade cerebral, não há consciência. Isto porque o cérebro é a máquina que produz a consciência.
Quando a máquina falha, a consciência para. Por mais complicados e misteriosos que sejam os mecanismos cerebrais, em essência, a questão é bastante simples. Retire a tomada da TV e a imagem desaparece. O espetáculo acaba. Por mais que se esteja gostando dele.
Durante o coma, não é que meu cérebro trabalhasse de forma inadequada - ele simplesmente não trabalhava. Hoje, acredito que isso tenha sido responsável pela profundidade e intensidade da experiência de quase morte (EQM) que vivi nesse período. Muitas das histórias de EQM aconteceram com pessoas que ficaram com o coração parado por algum tempo. Nesses casos, o neocórtex está temporariamente inativo, mas em geral não tão danificado, o que faz com que o fluxo de sangue oxigenado seja restaurado por meio da ressuscitação cardiopulmonar ou da reativação da função cardíaca em torno de quatro minutos. Mas no meu caso o neocórtex estava fora de área. Eu estava conhecendo uma dimensão da consciência que existia completamente à parte das limitações de meu cérebro físico.
De certa forma, vivi uma avalanche de experiências de quase morte. Como neurocirurgião com décadas de pesquisa e prática, eu estava em melhor posição para avaliar não apenas a realidade, mas as implicações do que acontecera.
E essas implicações são extraordinárias. Minha experiência me mostrou que a morte do corpo e do cérebro não é o fim da consciência, e que a existência humana continua no além-túmulo. E, mais importante ainda, ela se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se importa com cada um de nós, com o destino do Universo e de todos os seres contidos nele.
O lugar onde estive era real. Tão real a ponto de fazer a vida no aqui e agora parecer uma ilusão. Isso não significa, entretanto, que eu não valorize a vida que levo agora. Pelo contrário, prezo-a até mais do que antes. E o faço porque consigo enxergá-la em seu verdadeiro contexto.
A vida não é sem sentido, o problema é que não conseguimos perceber esse fato daqui - ao menos na maioria das vezes. O que aconteceu comigo quando estava em coma é, sem dúvida, a história mais importante que terei para contar daqui em diante. Mas é um relato muito delicado porque é estranho demais para a compreensão normal. Além disso, as conclusões são baseadas em uma análise médica da minha experiência e na minha familiaridade com os conceitos mais avançados da neurociência e dos estudos da consciência. Quando percebi a verdade por trás de minha jornada, soube que precisava contá-la. Fazer isso da melhor forma possível se tornou a principal tarefa da minha vida.
Isso não significa que eu tenha abandonado a atividade médica e a carreira de neurocirurgião. Mas agora que tive o privilégio de entender que a vida não termina com a morte do corpo ou do cérebro, encaro isto como minha obrigação, meu chamado: relatar às pessoas o que vi além do corpo e além desta terra. Estou ávido para contar minha história às pessoas que já ouviram relatos semelhantes e se sentiram inclinadas a acreditar neles, embora não o conseguissem de todo.
É para essas pessoas, mais do que para quaisquer outras, que dirijo este livro e a mensagem nele contida. O que tenho a dizer é tão importante quanto qualquer coisa que alguém já tenha lhe contado - e é verdadeiro.
                                                                     

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