terça-feira, abril 01, 2014
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Os dois primeiros títulos da trilogia de Veronica Roth
A história de um mundo pós-apocalíptico, com uma sociedade rigidamente divida em castas que desafiam qualquer senso comum da realidade e com uma heroína transgressora mais uma vez chega ao fim. E não estamos falando de Jogos Vorazes.

Enquanto a trilogia protagonizada por Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson se encerra nas telas, no ano que vem, a trilogia literária Divergente, que apresenta uma Chicago disfuncional, está prestes a estrear seu primeiro filme, em abril. O último volume da saga, Convergente, acaba de chegar, em português, às lojas.

A protagonista de Convergente, Beatrice, vive em Chicago, no estado de Illinois, assim como a autora da série, Veronica Roth, que, aos 25 anos, teve um lampejo para a história quando ia para a universidade Northwestern, onde estudou Escrita Criativa.

Na Chicago futurística criada por Veronica, a heroína Beatrice tem que escolher, aos 16 anos, entre cinco facções que dividem a cidade e que determinam o destino de seus habitantes: Abnegação, Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza. Após passar pela seleção, ela se descobre diferente dos outros e torna-se, então, Tris.

Assim como Katniss que, tem que lidar com os 12 Distritos impostos pelo governo de Panem, emJogos Vorazes; America Singer, da casta Cinco, que se debate com as candidatas de outras castas na disputa pelo título de consorte do príncipe Maxon em Iléa, em A Seleção; e Lena Haloway, que deve passar pela cirurgia de “cura do amor” aos 18 anos, por conta de uma decisão governamental que decidiu que aquele sentimento era, na verdade, uma doença, na trama de Delírio; Tris também tem que lutar para entender o que se passa em seu mundo tão diferente do nosso.

Mas se essas histórias soam familiares e os reality shows de Jogos Vorazes e A Seleção lembram os realities da vida real, como Big Brother, isso não é mera coincidência. O termo “Big Brother” vem da obra 1984 e batizou o reality show internacional justamente por ter no enredo uma entidade que tudo observa.
 
A aventura de Tris na misteriosa e opressiva Chicago chegará aos cinemas em 17 de abril

Jogos Vorazes, A Seleção, Divergente e outras tramas mais antigas, como 1984Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451, têm em comum um mesmo mundo, a mesma ideia de distopia: um futuro onde a sociedade é reduzida a determinadas características e controlada por um poder quase onipotente.

A diferença entre 1984 e os outros é que Orwell escreveu este em 1949, como uma crítica ao que antevia ser o totalitarismo soviético sobre o mundo. Já Huxley escreveu Admirável... em 1932 e Ray Bradbury publicou Fahrenheit... em 1953. Agora, nos anos 2000, o ano 1984 e a União Soviética já são passado e os problemas das novas distopias são outros.

“Eu creio que, com o advento das redes sociais e gêneros como reality shows, que aproximam a juventude à realidade sócio-política de nosso mundo, os jovens leitores estão se tornando cada vez mais conscientes dos problemas e anseios que afetam a sociedade e o seu futuro”, afirma Adam Levin, mestre em Língua Inglesa e pós-doutorando em literatura sul-africana.

Coautor de Space and Place in the Hunger Games: New Readings of the Novels, Adam analisou comoJogos Vorazes pode ser entendido como literatura pós-Holocausto e como a leitura desse tipo de gênero pode ajudar os jovens a entender melhor os traumas desse período.

Matheus Fabbris, estudante de 17 anos, que já leu Jogos Vorazes, A SeleçãoPuros1984, entre outras distopias, concorda. “As distopias [atuais] refletem mulheres corajosas e inteligentes, que lutam por seus ideais. Acreditamos que isso é bastante positivo como exemplo de passado para os adolescentes. Além disso, também percebemos que é cada vez mais comum a presença de casais homossexuais”, afirma.

Junto com Camila Carvalho, 23, Anderson Vidal, 17, e outros amigos, ele fundou (em 2011) e mantém o site Divergente Brasil, e também um grupo no Facebook que possui mais de 8 mil membros.

Para o sul-africano Adam, as distopias juvenis (público "Young Adult", em inglês) fornecem aos leitores uma válvula pela qual podem se conectar, pensar e refletir anseios através dos protagonistas da história. “Isso torna essas obras especialmente acessíveis ao público jovem em termos sociais e psicológicos”, completa.
 
1984 questionava um governo totalitário, enquantoAdmirável Mundo Novo tecia críticas a uma sociedade apegada à ideia de progresso

Mas como mundos tão diferentes – minimamente relacionados aos EUA – podem dizer algo, ao mesmo tempo, aos norte-americanos, brasileiros, sul-africanos e tantos outros mundo afora?

Adam acredita que essa literatura seja popular fora dos EUA justamente por não ser essencialmente ligada a um contexto político e/ou social de um país. “Isso significa que obras como Jogos Vorazespodem ser relacionadas ao clima sócio-político de qualquer país. Assim sendo, relacionamo-nos com essa literatura, porque, por ser aberta a interpretações, permite-nos potencialmente ver a narrativa do nosso próprio país dentro da narrativa dessa literatura, que pode ter sido escrita nos EUA, mas não é necessariamente enraizada na cultura e ideologias norte-americanas”, afirma.

Divergente fala sobre um tema universal, apesar do cenário muito diferente do nosso. Trata-se de descobrir quem você é – uma dúvida muito comum na adolescência. Saber o lugar ao qual você pertence, onde se encaixa, é um tema que repercute em qualquer ambiente e com o qual é muito fácil se identificar”, acrescenta Matheus.

Os recentes intenções da Rússia sobre a Ucrânia e os escândalos de espionagem norte-americana delatada por Edward Snowden no ano passado nos fazem pensar se George Orwell e os outros autores não estariam tão errados sobre o futuro.

Fonte: Saraiva Conteúdo

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