sexta-feira, dezembro 10, 2010
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O pensamento crítico não é lá muito valorizado no meio evangélico. Pudera – em boa parte das igrejas, qualquer questionamento costuma ser visto como rebeldia. Por isso, pensadores como Gedeon Freire de Alencar nem sempre têm seu trabalho reconhecido no segmento. Graduado em filosofia, mestre em ciências sociais e diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos (Icec), além de presbítero da Igreja Assembléia de Deus Betesda, em São Paulo, Gedeon acaba de lançar um livro polêmico.

Esse livro vem bem a calhar, se considerarmos o momento político que estamos vivendo. Que diferença política pode fazer a cultura e o mundo intelectual dos escritores? Certos intelectuais, como o italiano Antônio Gramsci, que foi encarcerado pelo fascismo, já se faziam essa pergunta na época da guerra (entre outros como C.S. Lewis). Sua resposta não necessariamente cristã, mas bastante razoável é que os intelectuais são um estrato como outro qualquer da sociedade: dos lixeiros, dos caminhoneiros, dos bibliotecários, dos políticos, etc., que também têm a sua cultura e papel social muitas vezes esquecido: a da crítica a coisas que podem passar despercebidas à grande massa. E o intelectual orgânico, ou seja, o que funciona da maneira certa dentro do corpo social, é o que, além de ser intelectual, também se compromete com os interesses do que chama de “classe subalterna”. A meu ver, não se trata necessariamente dos sem-terra ou descamisados, mas também dos desiludidos com alguns abusos que se comete nas igrejas de hoje. A quem faz parte desse extrato, recomendo que não se escandalize com a sinceridade do autor e que leia o livro como uma auto-crítica, em busca da volta ao bom-senso no meio evangélico e a uma boa dose de cultura geral, afinal, quem é que gosta de ser chamado de “tupiniquim”. O mesmo vale para os letrados e todos aqueles que se encontram de fora desse grupo, mais conhecido por “evangélicos”, exceto, quem sabe, o escândalo da crítica, a que já deviam estar mais do que habituados. Peço escusas ainda aos marginalizados e excluídos da sociedade, que possam achar que o título seja alguma alusão pejorativa à cultura indígena. Tenho certeza de que o autor está bem longe de promover tal coisa e que o índio que teve a graça de ser alfabetizado na língua dominante por aqui também fará bom proveito dessa leitura.” Gabriele Greggersen - Doutora em filosofia (USP), é professora da Faculdade Teológica Sul Americana, Londrina-PR

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