segunda-feira, novembro 25, 2013
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Os quartos de hotéis têm aumentado o número de leituras de Humberto. Atualmente, ele lê a biografia de Tolstoi. O artista prefere os livros às salas de cinema, locais em que, segundo o cantor, "te trancam em um espaço, colocam um som alto 'pra caramba' e onde tem sempre um cara de 2 metros entre você e a tela".

Humberto nesta entrevista concedia ao portal Saraiva conteúdo  fala de música, literatura e de seus 50 anos, que serão completados na próxima noite de natal, confira:

Atualmente, é difícil determinar se uma ideia vai ser transformada em crônica ou em letra? Como você faz para direcionar as ideias nos dois casos?

Gessinger. Na verdade é a ideia que escolhe por qual canal quer ser impressa. Claro que tem uma zona em que essas duas coisas convergem, e eu gosto dessa convergência, não tento separar muito, acho que são dois galhos de uma mesma árvore. O livro Seis Segundos de Atenção tem as letras do Insular, por exemplo. E por conta de esses trabalhos estarem escritos na primeiríssima pessoa e terem sido feitos no mesmo período de tempo, é natural que muitos temas passem pelos dois.

Você tem lançado livros com reflexões pessoais com bastante regularidade. Como surgiu o interesse em se tornar um escritor de prosa?

Gessinger. Na minha vida pessoal, a palavra escrita veio antes da palavra cantada. Eu era aquele menino que fazia as melhores redações na escola, mas que era muito tímido e nunca mostrava para ninguém o que escrevia. O que quebrou o gelo para eu começar a lançar livros foi quando publiquei Meu Pequeno Gremista (Belas Letras), projeto em que músicos escreviam sobre seus times. Nem foi um livro tão autoral, mas foi muito importante para que eu quebrasse esse gelo. Na verdade, o lance nem era tanto a vergonha em publicar, mas aquela dúvida que batia: "Pô, será que essas reflexões pessoais interessam a alguém?". Com a música também foi um pouco assim. O start para eu mostrar minhas letras veio na faculdade, quando me chamaram para fazer parte de uma banda. Mesmo assim, demorei para mostrar as coisas que havia escrito desde sempre.


E como você tem se sentido como escritor?

Gessinger. A gente vai se acostumando, mas o músico, para mim, sempre toma a dianteira na minha cabeça. O que tenho percebido é que as pessoas se sentem muito mais próximas de mim quando leem meus livros do que quando ouvem minhas músicas. Acho que isso é uma característica do meio literário, é o encontro da solidão de quem escreve com a solidão de quem lê.

E quais foram os escritores que te influenciaram?

Gessinger. Na música eu consigo enxergar muito mais as vertentes que me influenciaram, como a MPB e o rock progressivo. A minha leitura é por fases. Já tive, por exemplo, a fase de ficar lendo [autores] franceses, como Camus e Sartre. Agora, comecei a ler mais crônicas, depois que me avisaram que eu era um escritor de crônicas. Nunca cheguei a ler os grandes clássicos da crônica, eu era um leitor das crônicas de jornal mesmo.

Você está lançando seu primeiro disco solo. Por que essa opção? Quais são as características desse álbum?

Gessinger. Quando comecei a separar as canções, não sabia se aquele seria um novo disco dos Engenheiros do Hawaii ou do Pouca Vogal. Mas durante o processo, percebi que cada canção pedia uma formação com músicos diferentes. Convidei então vários artistas e, quando terminei o disco, vi que tinha desenhado o painel da minha mitologia da música gaúcha. Todas as vertentes da música do Rio Grande do Sul que mais me interessam estavam ali, desde a nativa, como a que eu canto com o Luiz Carlos Borges, até o rock mais universal do Frank Solar. O disco também tem a participação de duas formações dos Engenheiros do Hawaii.

Você vai completar 50 anos em dezembro deste ano. Como está sendo isso pra você?

Gessinger. Isso não me angustia, gosto desse lance do cabelo branco que vai aparecendo, do calo na mão que te atrapalha a tocar, de ter ruga em volta dos olhos... Acho isso bonito. O que me angustia é esse mundo de hoje, em que a adolescência vai dos 2 aos 92 anos. Eu quero ter o direito de ter 60 anos, não interessa se eu toco em uma banda de rock.
Você se arrepende de alguma coisa?

Gessinger. Se eu soubesse que a música ia tomar conta da minha vida, não teria escolhido o nome de Engenheiros do Hawaii para a banda. Era um nome que fazia sentido ali no bar da faculdade, quando via os caras da engenharia passando com bermudas de surfistas. De repente você está em rede nacional, tendo que explicar aquele nome. Tem horas que acho o nome maravilhoso, mas tem horas que sinto um grande peso.

O que você gostaria de fazer e ainda não fez, tanto na música quanto na literatura?

Gessinger. O que eu quero mesmo é a continuidade. Dizem que isso é coisa de capricorniano. Como está, para mim estaria ótimo. Não tenho um sonho redentor ou de transformação. Ficar nessa velocidade de cruzeiro está ótimo, lançando meus disquinhos e meus livros.
 

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